EXCLUSIVO Madeira: “Vivi momentos difíceis nesses 8 anos”



Descansando em algum lugar do Brasil ou do exterior, o ex-prefeito Sebastião Madeira parece aliviado da tarefa diária que cumpriu por oito anos. Único gestor até agora reeleito - com mais de 50% dos votos nas duas eleições – na história política da segunda cidade do Maranhão, ele revela que a renúncia “seria uma covardia”.

Na entrevista feita por email, Madeira fala de sua administração, elogia a “grandeza de gestos” do governador Flávio Dino, diz que nunca pensou em demitir sua esposa, Conceição Madeira, da Secretaria de Saúde (“aquela [pergunta] da dra. Conceição foi muito dura”), e garante que ainda não decidiu seu futuro político.

Confira abaixo a íntegra da entrevista.       

O senhor, em oito anos de mandato, foi assediado alguma vez com proposta de propinas para facilitar ou manipular algum processo licitatório?
Madeira  -  Não. Tive apenas dois presidentes [da Comissão Permanente de Licitação – CPL]. No primeiro mandato, foi o dr. Jonilson Viana. No início do segundo mandato, pediu exoneração porque a OAB não permitiu que ele continuasse acumulando a presidência da CPL e ao mesmo tempo exercesse a profissão. Então, convidei a dra. Denize Brige. O dr Jonilson aceitou o cargo de assessor jurídico. Quando os convidei tive uma conversa pessoal com cada um, nos seguintes termos: “Quero tudo absolutamente dentro da lei. Não aceitem pedido nem interferência de ninguém, nem minha. Se algum dia eu pedir a vocês algo irregular, peçam demissão mas não atendam nem a mim”. E assim foi feito. Nunca ninguém me pediu para interferir e muito menos ofereceu vantagem. Quando alguém me perguntava como era o processo, minha resposta era padrão: “Os editais de qualquer licitação estão na internet, busquem e concorram”.

Alguma vez, durante esse tempo, o senhor teve receio de ser vítima de atentado ou pensou em renunciar?
Madeira - Não para as duas perguntas. Todos são testemunhas que sempre circulei livremente pela cidade de peito aberto. Às vezes tinha alguma insatisfação ou conflito e os mais próximos diziam: “Madeira, não vai que é perigoso!”. Minha atitude era sempre de dizer que se houvesse algum lugar da cidade onde não pudesse ir, também não poderia continuar sendo prefeito. Vivi muitos momentos difíceis durante esses oito anos. Fui eleito contando com o governador Jackson Lago pra me ajudar. Três meses depois ele foi afastado do governo e fiquei tonto. Tivemos outras situações de extrema dificuldade, mas quando parecia não ter saída, uma luz se acendia. Tive ajuda do governador Jackson Lago mesmo no curto espaço de tempo em que convivemos como prefeito e governador. No início de 2011, a governadora Roseana me acudiu com R$ 5 milhões para a Saúde e fez vários convênios com o município, me ajudando bastante e, ressalte-se, que não era seu aliado. O governador Flávio Dino, nos últimos dois anos, tem tido um olhar muito especial para Imperatriz, que começou com a nomeação de Clayton Noleto para a Infraestrutura. Ajudou muito, principalmente na saúde e infraestrutura. Além de investimentos que foram direcionados diretamente para a cidade, como asfaltamento da Estrada do Arroz. Campus da Uema [agora Uemasul}, segurança, educação, etc. Também recebi ajuda de muitos deputados federais, como Davi Júnior, Francisco Escórcio, Nice lobão, Flávio Dino, Carlos Brandão, Domingos Dutra, Cleber Verde, Ribamar Alves, Rosângela Curado e André Fufuca, que ajudou a liberarrecursos para a saúde agora em dezembro.  E dos deputados estaduais João Batista, Léo Cunha, Antonio Pereira, Valeria Macedo e Marco Aurélio.
O governo federal investiu em Imperatriz nesses oito anos centenas de milhões de reais em infraestrutra (PAC Cafeteira) e habitação (Itamar Guará, Sebastião Régis, Canto da Serra e Teotônio Vilela). Portanto, embora com todas as dificuldades, nunca me passou pela cabeça abandonar a cidade com renúncia. Seria uma covardia. Seria um imenso desrespeito para com os que me elegeram duas vezes, as duas com mais de 50% dos votos.

O senhor foi muito criticado quando nomeou sua esposa, dona Conceição, para dirigir a Secretaria de Saúde. Ela enfrentou problemas com o Ministério Público, sua secretaria foi alvo de denúncias, enfrentou manifestações hostis de servidores, teve problema de saúde, enfrentou um tratamento, e mesmo assim ficou até o final do mandato. O senhor se arrependeu alguma vez de tê-la indicado para o cargo? Cogitou demiti-la?
Madeira - A dra. Conceição, médica anestesiologista e ultrasonografista, minha companheira por quarenta anos, assumiu a Secretaria de Saúde num momento de crise aguda  na gestão da secretaria,no iniciou de 2010. Por sete anos, lutou bravamente, enfrentando todo tipo de dificuldade, inclusive pessoais, e durante esse período alcançou avanços consideráveis. Triplicou o número de leitos de UTI, quase duplicou o número de leitos do Hospital Municipal Infantil (HMI), de 220 para 400, transformou a saúde mental de Imperatriz (inclusive recebendo prêmios de reconhecimento nacional, em 2015 e 2016), ampliando os CAPS, instalou residências terapêuticas, instalou o NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família), SAD ( Serviço de Atendimento Domiciliar), unidade móvel de oncologia, consultório na rua, aliás o único do Maranhão, academias de saúde, novas unidades básicas de saúde, incluindo duas quase prontas, ampliou e descentralizou o SAMU, com três pólos. Implantou o SISREG (Informatização de Consultas, Exames e Cirurgias) no Três Poderes. Criou o Centrinho de Imperatriz para Correção de Fissura Labial (lábios leporino), ampliou o atendimento em todas as clínicas especializadas. Substituiu equipamentos alugados por equipamentos próprios.
E o mais importante: jamais um paciente foi recusado no hospital do município, seja qual fosse sua origem.
Quanto a questionamentos do Ministério Público, essa é uma sina da qual nenhum gestor escapa. É função dele. Aponte-me qual é o sindicato que é satisfeito com os gestores em qualquer parte do mundo? Se existir, não conheço. Nunca cogitei demiti-la. Pelo contrário, tenho o maior orgulho do que ela realizou, mesmo enfrentando por dois anos um calvário pessoal.

O que o senhor não fez e gostaria de ter feito? Voltaria atrás em alguma decisão que tomou?
Madeira - É irrelevante olhar pra trás e tentar alterar o acontecido. Tomei as decisões em cada instante analisando os prós e contras naquele exato momento. Não me arrependo de nada. Se acertei, e acho que foram muitos os acertos, ou se errei, foi sempre buscando o melhor para minha cidade e seu povo. O futuro dará seu julgamento.

O senhor apoiou o candidato Ribinha Cunha na eleição de 2016, indo contra a candidatura apoiada pelo governador Flávio Dino. Sofreu alguma represália administrativa ou política por não apoiado a candidata Rosângela Curado?
Madeira - Não. Jamais sofri qualquer represália política ou de qualquer outra ordem por parte do governador Flávio Dino. Ele sempre soube da minha posição em relação à eleição de Imperatriz. Em vez de represália, ele ajudou minha administração mesmo depois da eleição. Autorizou uma operação tapa-buracos e no dia 30 de dezembro autorizou a transferência de R$ 500 mil para a UPA do São José.
Também não sofri represálias da então governadora Roseana, quando decidi apoiar o hoje governador Flávio Dino, que disputou a eleição contra o candidato do PMDB.

O PSDB do Maranhão está rompido com o governador Flávio Dino?
Madeira - De forma alguma. O vice-governador Carlos Brandão é o presidente do PSDB estadual. Inclusive, assumindo o governo agora em janeiro, nas férias do governador Flávio Dino. A Secretaria de Desenvolvimento Social é ocupada pelo deputado Neto Evangelista. Muitos outros tucanos ocupam cargos no governo e os primeiros prefeitos que estiveram com o governador, logo após a eleição, são do PSDB.

Em 2018, o senhor é candidato a deputado federal ou a senador?
Madeira - Das perguntas que me foram feitas, essa é a única que ainda não sei a resposta. Quem tem tempo, não tem pressa. Sou do signo de capricórnio. Como é característica dos nascidos sob esse signo, paciência não me falta. Tem um ditado que diz que ‘o que mais se ganha na vida é o tempo que se perdeu em esperar’. Vou esperar.

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