Decreto institui homenagem a padre Elias; quem foi ele?

Na sessão desta última quarta-feira, 30 de novembro, o plenário da Câmara de Vereadores de Imperatriz aprovou o Decreto Legislativo nº 74/2022, de autoria do vereador Zesiel Ribeiro (professor, ex-secretário municipal de Educação), que institui a “Medalha Padre Domingos Elias da Costa Morais”. Diz a justificativa do documento, que "... Na história de nossa cidade, o padre Elias foi sucessor de Frei Manoel Procópio do Coração de Maria (frei Manoel Procópio, oficialmente o fundador da cidade) e é considerado o precursor do ensino escolar de Imperatriz".

A data histórica da fundação da cidade é 16 de julho de 1852, três anos após a partida de uma expedição militar e religiosa do porto de Belém, em 26 de junho de 1849, liderada por Frei Manoel Procópio, também capelão da expedição. A povoação foi batizada inicialmente de Colônia Militar de Santa Tereza do Tocantins. Em 27 de agosto de 1856, a lei n.º 398 criou a Vila Nova de Imperatriz, nome em homenagem à imperatriz Tereza Cristina. Com o tempo, sua denominação foi sendo simplificada pela população, havendo documentos anteriores à Abolição em que a vila é mencionada simplesmente como Imperatriz. Em 22 de abril de 1924, no governo Godofredo Viana (Lei n.º 1.179), a povoação eleva-se à categoria de cidade.

O historiador, jornalista, editor e escritor Adalberto Franklin (Adalberto Franklin Pereira de Castro, 1962-2017) diz em seu "Breve História de Imperatriz" (Ética, 2005) que "O ensino oficial das letras demorou a chegar a Imperatriz. Uma lei provincial de 1864, dois anos depois do estabelecimento da sede da vila, criara “duas cadeiras de primeiras, com o ordenado anual de 600 mil réis na Vila Nova da Imperatriz, sendo uma para o sexo masculino e outra para o sexo feminino”. A intenção, porém, não saiu do papel".

Adalberto Franklin cita o registro feito pela professora, historiadora e escritora Edelvira Marques (Edelvira Marques de Morais Barros, 1930-2007), autora de "Eu, Imperatriz", considerado o primeiro livro exclusivamente sobre a história do município:

"Diz Edelvira Barros que o padre Domingos Elias da Costa Morais, sucessor de frei Manoel Procópio, contrariado com essa situação, vai a São Luís e faz protestos na imprensa contra o descaso do governo da Província para com esta vila, tendo de lá retornado com recursos para abrir uma escola de primeiras letras".

Também em seu livro, o escritor imperatrizense nascido no Piauí anota que "Em seu Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, César Marques reitera que "A aula primária, desde que foi criada, não teve professor em exercício. Condoído de ver aquela pobre gente privada até do ensino das primeiras letras, abriu esse bom vigário uma aula que, desde outubro de 1867, tem sustentado gratuitamente". "Em muitas fazendas, porém, os jovens eram alfabetizados pelos próprios familiares ou por um mestre-escola contratado, como foi costume nos sertões até a metade do século XX", escreve Adalberto Franklin.

Entre 1866 e 1901 há registros de professores 'interinos' lecionando no longínquo município; eram escolhidos numa espécie de concurso, mas não se 'acostumavam' em lugares remotos, como acontecia em outras regiões do estado - após algum tempo, uns pediam transferência para vilas mais próximas da capital, outros talvez por causa de remuneração baixa.

A importância então da intercessão e da missão abraçada por Frei Elias em lutar para manter uma estrutura, mesmo que precária, para alfabetizar uns tantos poucos selecionados entre aqueles que se dispunham a labutar numa sala de aula modesta e com poucos recursos didáticos.

Confesso que minha pesquisa foi rápida e superficial nas ferramentas de busca e pesquisa da internet sobre o frei, mas apenas essas duas citações sobre ele nos trabalhos de Adalberto Franklin e Edelvira Marques são facilmente encontradas. Não existe retrato ou gravura de sua fisionomia conhecidos, pelo menos acessível ao público leigo.

No excelente artigo científico "Gênese de uma escola católica e estratégias femininas no Maranhão novecentista", sobre o papel das irmãs Capuchinhas na educação e a fundação da Escola Santa Teresinha, em 1924, a professora Maria Aparecida Corrêa Custódia, do Grupo de Pesquisas sobre História das Instituições, Práticas Educativas e Sujeitos Históricos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus Imperatriz, relata essa dificuldade das pequenas comunidades do Maranhão em recrutar e manter professores das primeiras letras, centrando foco na esquecida Imperatriz do final do século 19, começo do 20. Porém, não há citação sobre o trabalho de frei Elias. 

Talvez - ou provavelmente - existam registros nos arquivos da Diocese de Imperatriz e/ou da paróquia de Santa Teresa d'Ávila. Um trabalho para profissionais, historiadores de verdade, numa cidade em que a memória histórica é simplesmente esquecida, que não tem sequer um museu para reverenciar aqueles que fizeram sua história e de suas instituições.   

 

PS: Texto aberto a informações, contribuições, sugestões, críticas.



 

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