Em 2011, por ocasião dos 18 anos do assassinato do prefeito Renato Moreira escrevi esse texto. Neste doingo, completaram-se 20 anos do crime e até agora a situação não é muito diferente da de dois anos atrás.
Leía a íntegra da matéria:
6 de outubro de 1993. Os fogos de artifício da alvorada anunciavam o início de mais um festejo da padroeira de Imperatriz, Santa Teresa d´Ávila. O prefeito Renato Moreira saiu de casa, como sempre fazia em sua rotina diária, pouco mais das 6 horas, para comprar o café da manhã da família no Mercado Bom Jesus (o mais antigo da cidade), vizinho à sua residência. Era um dia especial. Desde a infância ele já vira, participara e sentira-se feliz com os festejos da padroeira; aquela festa, gente vindo e indo, rezas, missas, procissões, leilões, amigos, famílias, o burburinho pagão que começara com os poucos habitantes do povoado desde os primórdios de sua fundação.
O prefeito entrou no mercado pelo portão lateral da rua Bom Jesus, cumprimentou antigos conhecidos, inteiramente à vontade, quando foi surpreendido pelo golpe final da trama: assassinado com dois tiros disparados por um pistoleiro, que fugiu do local em uma bicicleta, até ser resgatado na Praça União (também no centro velho da cidade) por um comparsa que o esperava em um veículo.
O motivo do crime teria sido a firme decisão do prefeito em quebrar o monopólio do transporte coletivo urbano, retirando vantagens da única operadora do serviço, obtidas ao longo da gestão de Davi, o antecessor e patrocinador da candidatura de Renato.
Segundo os autos do processo, pelo menos dez pessoas participaram da trama para assassinar Renato. Destas, apenas o ex-policial militar Antonio Sousa da Silva, o Sousão, que contratou o pistoleiro, e Arnaldo Chaves Barbosa (atuou na intermediação) foram condenados e cumpriram pena. Arnaldo, que havia recebido o benefício de saída temporária, morreu de acidente na BR-222, quando vinha de São Luís para Imperatriz.
O vice de Renato, Salvador Rodrigues, que chegou a assumir a Prefeitura, foi julgado e condenado pelo júri popular a 18 anos e 9 meses de reclusão, mas ganhou o direito de recorrer da sentença em liberdade.
Outros três acusados de participar diretamente do crime nunca foram julgados. É o caso de Geraldo João da Silva, que é tido como o homem que mostrou Renato Moreira ao pistoleiro (foragido); Edmilson Alves Brandão, o Consol, que teria alugado o veículo usado na fuga do pistoleiro, e o próprio executor do assassinato, Antonio Conceição da Silva, que nunca foi preso ou prestou depoimento.
Nos autos do processo sobre os mandantes do crime estão arrolados Ronaldo Machado Arantes, Damião Benício dos Santos e Saulo Antônio Gomes. Eles entraram com recurso contra a pronúncia do processo deles a Júri Popular. O empresário Geraldo Hipólito da Silva, que na época do crime tinha 70 anos, está em liberdade porque o processo prescreveu para ele em razão da idade.
No último dia 29 de setembro, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Maranhão acolheu recursos de embargos de declaração de Ronaldo Machado Arantes e Damião Benício dos Santos. A votação unânime determinou o retorno dos autos à Justiça de 1º grau, para que o juiz de primeira instância reinicie a instrução do processo.
Todo o grupo era ligado ao ex-prefeito Davi, também assassinado em 23 de setembro de 1998 por um ex-cunhado pouco mais de uma semana antes das eleições, quando tentava sua reeleição à Câmara dos Deputados.
Revolta – Herdeiro político do pai, o "coronel" Simplício Moreira, Renato havia retornado à política 20 depois de cumprir seu primeiro mandato (foi prefeito de 1970 a 1972, em plena ditadura militar). Para os moradores (especialmente as famílias tradicionais), seu segundo triunfo nas urnas era esperança de dias melhores. O município estava mergulhado no caos administrativo, e falido, depois de um fracassado mandato do antecessor Davi Alves Silva – sobre quem pesavam acusações de ter começado no ramo da pistolagem, nos anos 70, para depois entrar na política e enriquecer. A economia capengava com a crise econômica que assolava o país desde a década de 80 – para os imperatrizenses, acentuada com o fechamento do garimpo de Serra Pelada.
O crime detonou uma crise institucional, moral e ética na política local, e o povo se revoltou, foi às ruas e expulsou da Prefeitura o vice Salvador Rodrigues. Novos líderes emergiram da situação, como os ex-prefeitos Ildon Marques e Jomar Fernandes, e o atual, Sebastião Madeira.
Nesta quinta, 6 de outubro de 2011, 18 anos depois da morte de Renato, a sensação é de impunidade. Neste 6 de outubro, como em todos dos últimos 18 anos, quando os fogos de artifício da alvorada anunciam mais um início dos festejos da Padroeira, uma família da rua Bom Jesus, no centro velho de Imperatriz, tenta domar esse fantasma.
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