DF, 12/07/2016. Presidente em Exercício Michel Brasília Temer
durante almoço com a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA). Foto: Foto: Beto
Barata/PR
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Por Cauê Ameni, do De Olho Nos Ruralistas
O agronegócio leva nas costas, como alegam seus defensores,
as contas do Estado brasileiro? Segundo o relatório Terrenos da desigualdade:
terra, agricultura e desigualdade no Brasil rural, publicado pela Oxfam, não.
Dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional mostram que 4.013 pessoas
físicas e jurídicas detentoras de terra devem R$ 906 bilhões, uma dívida maior
que o PIB de 26 estados.
O montante é equivalente a metade do que todo o estado
brasileiro arrecadou em 2015. Ou aproximadamente 22 petrolões.
Cada um dos 4.013 devedores tem dívidas acima de R$ 50
milhões. Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), há um grupo ainda mais seleto de 729 proprietários que declararam
possuir 4.057 imóveis rurais, somando uma dívida de R$ 200 bilhões. As terras
pertencentes a esse grupo abrangem mais de 6,5 milhões de hectares, segundo
informações cadastradas no Sistema Nacional de Cadastro Rural.
O Incra estima que com essas terras seria possível assentar
214.827 famílias – considerando o tamanho médio do lote de 30,58 ha/famílias
assentadas. Em outras palavras, seria possível atender, com as terras dos
maiores devedores do Estado brasileiro, o dobro das 120 mil famílias que
estavam acampadas demandando reforma agrária em 2015.
Em vez de cobrar os débitos, porém, o governo Temer editou
em junho a Medida Provisória nº 733, concedendo mais privilégios ao setor.
Segundo o relatório da Oxfam, a MP permite que produtores rurais inscritos em
Dívida Ativa da União e com débitos originários das operações de securitização
e Programa Especial de Saneamento de Ativos liquidem o saldo devedor com bônus
entre 60% a 95%. Por exemplo, dívidas acima de R$ 1 milhão devem ter descontos
de 65%.
Injustiça fiscal com desoneração
O relatório aponta outra peculiaridade: a isenção de
diversos impostos. A Lei Kandir, editada em 1996, isentou o pagamento de ICMS
aos produtos primários e produtos industrializados e semielaborados destinados
à exportação. Segundo o relatório, essa desoneração gera perdas em torno de R$
22 bilhões por ano aos estados. Com promessa de ressarcimento. Entretanto, só
são ressarcidos 12% da isenção. Em 2014, a bancada ruralista emplacou mais uma
benesse fiscal para o setor: a isenção de 9,25% na cobrança do PIS e Confins na
venda de soja para todos os fins comerciais.
O relatório alerta também para a ineficácia do Imposto sobre
a Propriedade Territorial Rural (ITR), principal tributo no meio rural
brasileiro. Apesar da progressividade do imposto em relação ao tamanho e
utilização do terreno, a cobrança é responsável por apenas 0,0887% da carga
tributária em 2014, porcentual médio constatado desde os anos 1990.
A injustiça fiscal do ITR fez com que os grandes e médios
proprietários passassem a pagar menos imposto por hectare, caindo a média de R$
1,59 por hectare em 2003 para R$ 1,52 em 2010, segundo os dados das áreas
totais cadastradas no SNCR.
Ligada à Universidade de Oxford, a Oxfam está presente em 94
países.
Fonte: DA REVISTA FORUM
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