Vlado Herzog: reportagem da Folha ajuda a sepultar versão de suicídio


Filho do jornalista Vladimir Herzog, morto numa cela do DOI-Codi em 1975, Ivo Herzog, 45, disse neste domingo que a reportagem da Folha de S. Paulo colabora para enterrar ainda mais a versão de que seu pai teria se suicidado.

A Folha localizou em Los Angeles Silvaldo Leung Vieira, o fotógrafo da Polícia Civil de São Paulo que registrou a famosa imagem do corpo de Herzog, pendurado pelo pescoço às grades da cela, mas com os pés no chão. A foto, produzida por ordem do Dops (Departamento de Ordem Social e Política), foi divulgada com intuito de fazer crer que o jornalista havia se suicidado.

"Era um fato [a identidade do fotógrafo] que ninguém nunca tinha parado para pensar e investigar. Algumas pessoas ainda sustentavam a versão do suicídio. Essa versão não tem pé nem cabeça, mas acho que a matéria ajuda a enterrar ainda mais", disse Ivo.

 Vladimir Herzog compareceu espontaneamente ao DOI-Codi em São Paulo, após ter sido procurado por agentes da repressão em sua casa e na TV Cultura, onde trabalhava como diretor de jornalismo. Segundo relatos de testemunhas, Vlado, como era conhecido pelos amigos, foi torturado e espancado até a morte.

"Ainda carrego um triste sentimento de ter sido usado para montar essas mentiras", afirmou Silvado.

Para Ivo, a história detalhada na matéria é mais um elemento a ser investigado na Comissão da Verdade, órgão governamental que fará a narrativa das violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988.

A comissão terá a missão de identificar os responsáveis pelas mortes, torturas e desaparecimentos políticos no período, ainda que não possa puni-los. Segundo Ivo, o sucesso da comissão dependerá dos seus integrantes, que ainda serão nomeados pela presidente Dilma Rousseff.

"A gente está muito otimista, acreditando que ela vai ser implantada com pessoas que tenham um papel realmente ligado ao que a comissão se presta, que é contar a história do Brasil, esclarecer essa história. E, até pela própria liderança da presidente Dilma, a gente acredita que vai ser instituída uma comissão realmente de alto nível, que vai cumprir com o objetivo", afirmou.

Ivo considera que é fundamental esclarecer a história da morte de seu pai para impedir que casos semelhantes se repitam. Ele destaca que, durante a transição da ditadura para o regime democrático no Brasil, não houve uma apuração dos acontecimento do período militar.

"No processo de redemocratização do Brasil, diferentemente de outros países, não houve um rompimento, houve quase uma metamorfose, sem apuração do que aconteceu naquela época. O esquecimento ou o encobrimento da história é justamente para possibilitar que fatos, por serem desconhecidos, possam voltar a acontecer", ressaltou.

A imagem produzida por Silvaldo ajudou a derrubar a versão do suicídio de Vladimir Herzog, uma vez que seu corpo pendia de uma altura de 1,63 m, com as pernas arqueadas e os pés no chão, o que torna altamente improvável que tenha se matado.

A morte gerou manifestações, como a famosa missa na catedral da Sé, em São Paulo, e contribuiu para que o presidente Ernesto Geisel e seu ministro Golbery do Couto e Silva vencessem a queda de braço com a linha dura da ditadura, que pedia um aperto na perseguição à esquerda, sob o argumento de que o país vivia a ameaça do comunismo.

Fonte: Folha.com

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