Palestinos esperam onda de reconhecimento após decisão de Lula

Guila Flint
De Tel Aviv para a BBC Brasil

A Autoridade Palestina afirma esperar que a decisão do governo brasileiro de reconhecer o Estado palestino nas fronteiras de 1967 gere uma leva de reconhecimentos semelhantes.
Em entrevista à BBC Brasil, o diretor do departamento de América Latina do Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Munjed Saleh, disse esperar que todos os países da América Latina sigam o exemplo do Brasil e que a decisão do governo brasileiro também tenha um impacto sobre a atitude de outros países ocidentais em relação à questão palestina.
“Como o Brasil é o líder da América Latina, agora é muito provável que todos os países da região reconheçam o Estado Palestino", afirmou.
A decisão brasileira foi criticada pelo governo israelense, que se disse “decepcionado”.
Saleh destacou que o Brasil é o primeiro país ocidental a reconhecer o Estado Palestino e, para ele, a decisão brasileira terá um "impacto importante e poderá incentivar a retomada das negociações de paz entre israelenses e palestinos".
Para o diplomata palestino, a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também terá um "efeito concreto sobre as relações entre o Brasil e a Palestina".
"A partir de agora, a relação passa a ser uma relação simétrica, entre dois Estados. Nossa representação em Brasília passará a ser reconhecida como uma embaixada e será muito mais fácil fazer acordos bilaterais", afirmou.
Amadurecimento da relação - Munjed Saleh considera a decisão de Lula um "resultado natural" de um processo de amadurecimento na relação entre o Brasil e a Autoridade Palestina.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, se encontrou com Lula no Brasil, em novembro de 2009.
Em março deste ano, os dois líderes voltaram a se reunir, quando Lula visitou os territórios palestinos e passou dois dias nas cidades de Ramallah e Belém.
Durante sua visita, em março, Lula já havia indicado uma visão de simetria em relação a Israel e a Autoridade Palestina, pois dividiu seu tempo de maneira igual entre os dois lados e, depois de pernoitar em Jerusalém, onde se encontrou com os principais líderes de Israel, também passou uma noite na cidade palestina de Belém.
Segundo Saleh, os palestinos esperam que, em relação ao conflito no Oriente Médio, a gestão da presidente eleita, Dilma Rousseff, seja "uma continuação da política de Lula".
"Temos certeza de que sob o comando da presidente Rousseff, o Brasil manterá a mesma cooperação com os palestinos, como na gestão de Lula", disse.
Repercussão na mídia - A decisão de Lula de reconhecer o Estado Palestino tomou as manchetes de todos os veículos de comunicação nos territórios palestinos.
Todos os canais de televisão e rádio e os sites de notícias abriram seus noticiários com a declaração de Lula, imediatamente após a divulgação, às 17h de sexta-feira no horário local (13h de Brasília).
Já em Israel, a decisão do presidente brasileiro quase não teve repercussão alguma.
A mídia israelense está totalmente ocupada em noticiar o maior incêndio da história do país, que já matou 42 pessoas e arrasou vilarejos e grandes áreas verdes perto da cidade de Haifa.
O único veículo de comunicação israelense que noticiou a decisão de Lula foi a rádio estatal, que deu uma nota curta no noticiário da madrugada, anunciando "pesar e decepção do ministério das Relações Exteriores com a decisão do presidente do Brasil".
Surpresa - A diretora do departamento de América Latina do ministério das Relações Exteriores de Israel, embaixadora Dorit Shavit, disse à BBC Brasil que "ficou surpresa" com a decisão de Lula.
"O reconhecimento do Estado Palestino, independentemente das negociações, poderá diminuir a motivação dos palestinos para negociar", afirmou a diplomata israelense.
"Se podem conseguir um Estado sem negociar, para que negociar?", perguntou ela.
Para Shavit, a decisão do presidente do Brasil "prejudica as negociações de paz".
"Não está claro por que o presidente Lula resolveu tomar essa medida um mês antes de deixar o cargo. Nosso embaixador em Brasilia provavelmente irá pedir esclarecimentos ao Itamaraty", acrescentou Dorit Shavit.
Na semana passada, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, assinou um acordo de segurança de informação com o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak.
O acordo indica uma aproximação e uma confiança crescente entre os dois paises, que, segundo o governo brasileiro, não será afetada pela decisão do presidente Lula.










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