A ira do ditador

Gaddafi: massacre em nome da ganância pelo poder
O ditador líbio, Muammar Gaddafi, afirmou nesta terça-feira em discurso transmitido pela emissora de TV estatal que não irá deixar a Líbia, que é "a nação de seus ancestrais", e irá morrer no "honrado solo de seu país".

"Muammar Gaddafi é o líder da Revolução, sinônimo de sacrifícios até o fim dos dias. Esse é o meu país, de meus pais e meus antepassados", afirmou.

Durante o pronunciamento, e em meio a gritos e socos no pódio, ele prometeu ainda lutar contra os manifestantes que pedem o fim de seu regime e disse que irá "morrer como um mártir", já que abandonar o poder "não está entre as suas opções".

Vestido com um robe marrom e um turbante, ele discursou de um pódio colocado na entrada de um prédio bombardeado que aparentava ser sua residência em Trípoli --atingida por ataques aéreos dos Estados Unidos na década de 1980 e deixado sem reparos como um símbolo de desafio.

Gaddafi afirmou que não é o presidente da Líbia, mas sim o "líder da revolução" e que assim continuará, ignorando pedidos de seus próprios diplomatas, soldados e manifestantes que, na última semana, tomaram as ruas para pedir o fim de seu regime.

Ele disse que "tem o direito de lutar pela Líbia". "Nós não insistimos em nada, a não ser lutar pelo bem da Líbia. Passei minha vida sem ter medo de nada. Eu devo permanecer aqui, desafiador", acrescentou.

"A Líbia quer glória, a Líbia quer estar no topo, no topo do mundo."

"Sou um guerreiro, um revolucionário de tendas. Vou morrer como um mártir no final."

Segundo o ditador, ele não tem poder para decidir sobre sua própria renúncia --este poder está nas mãos dos chamados "comitês verdes".

O ditador ainda afirmou que Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, está sendo "aterrorizada". "Eles foram ao aeroporto, que foi destruído. Não há aviões partindo ou chegando de Benghazi. Não há aviões chegando à Líbia."

Gaddafi prometeu ainda não usar força de novo contra os manifestantes, mas ameaçou "aqueles que tomam parte na guerra civil" --que, segundo ele, é o que está acontecendo no país-- "e os que instigam a guerra civil" serão punidos com morte e execução.

Ele dedicou boa parte de seu discurso desafiando e atacando potências ocidentais, principalmente os EUA. "Vocês querem que os EUA venham aqui e façam o que fizeram à Somália, ao Afeganistão, ao Paquistão, ao Iraque? É isso o que vocês querem?", questionou.

"Persigam-nos, prendam-nos, entreguem-nos às [forças de] segurança. Eles são apenas poucos, eles são terroristas."

O mandatário líbio convocou a população --"todos os homens e mulheres e crianças"-- para sair às ruas nesta quarta-feira e assumir o controle. "Devemos tomar todo o país e mostrar a eles o que é uma revolução popular", disse. Ele pediu ainda a jovens que gritem frases de defesa ao regime e coloquem faixas que divulguem as realizações da "revolução".

"A partir de amanhã, famílias, peguem seus filhos, deixem suas casas, todos vocês que amam Muammar Gaddafi, vão às ruas, controlem as ruas, não tenham medo deles."

Gaddafi afirmou que "ainda não usamos forças ainda, mas se for necessário, iremos usar" e ameaçou "aqueles que tomam parte na guerra civil" --que, segundo ele, é o que está acontecendo no país-- "e os que instigam a guerra civil" serão punidos com morte e execução.

REPRESSÃO

O discurso ocorre em meio a relatos de que o regime do ditador --que está há 41 anos no poder-- usa helicópteros, aviões e tanques para reprimir opositores que pedem sua renúncia.

Centenas pessoas tentam fugir do país e chegar ao Egito. A agência de refugiados da ONU (Organização das Nações Unidas) pediu aos vizinhos da Líbia para que não recusem os que estão fugindo da violência. Centenas de refugiados chegaram ao Egito em tratores e caminhões descrevendo uma onda de mortes e bandidagem provocada pela revolta. Relatos indicam que manifestantes da oposição assumiram o controle da fronteira líbia com o país nas últimas 12 ou 24 horas.

Na cidade de Al Bayda, no leste do país, o morador Marai al Mahry afirmou à agência de notícias Reuters, por telefone, que 26 pessoas --incluindo seu irmão Ahmed-- foram atingidos por tiros disparados por partidários de Gaddafi e morreram durante a noite.

"Eles atiram em você só por andar na rua", afirmou, dizendo que os manifestantes foram atacados com tanques e aviões de guerra.

"A única coisa que podemos fazer agora é não desistir, não nos render, não retroceder. Vamos morrer de qualquer jeito, gostemos disso ou não. Está claro que eles não se importam se viveremos ou não. Isso é um genocídio."

CAPITAL

Em Trípoli, moradores afirmaram que não há presença visível de forças de segurança nas ruas.

No entanto, testemunhas relataram ao jornal espanhol "El País" e à emissora árabe Al Jazeera que o regime está recorrendo nesta terça-feira a mercenários fortemente armados para caçar opositores pelas ruas da capital. Uma testemunha afirmou ao "El País" que, após os ataques aéreos do dia anterior, "helicópteros estão sobrevoando a cidade, disparando contra as pessoas".

A testemunha --um cidadão espanhol que vive na cidade e preferiu não ter seu nome divulgado devido ao temor de represálias-- assegurou que "sair na rua é complicado" e que a situação nos aeroportos é caótica.

A rede de TV árabe Al Jazeera também informa que as forças leais a Gaddafi estão realizando uma "sangrenta operação" para mantê-lo no poder, e que moradores de Trípoli relataram tiroteios em partes da capital e outras cidades.

Corpos de manifestantes mortos foram deixados nas ruas de Trípoli e moradores assustados se esconderam em suas casas.

Manifestantes demandando a queda de Gaddafi haviam planejado uma manifestação para a praça Verde, no centro da capital, e outros locais para a noite de segunda-feira. Mas milícias pró-regime --supostamente uma mistura de líbios e mercenários estrangeiros-- espalharam-se pela cidade para desencadear uma forte ofensiva, bloqueando bairros e atirando a partir de telhados.

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