Por César Muñoz Acebes
Os genes de um grupo de equatorianos de baixa estatura que não sofrem de câncer ou diabetes abrem novas vias de tratamento para pessoas que têm essas doenças, disse à Agência Efe Jaime Guevara Aguirre, o principal responsável pela descoberta.
O médico equatoriano estuda desde 1987 um grupo de 100 pessoas de entre 1,15 metro e 1,25 metro de altura originárias de regiões do sul do Equador e que têm uma mutação genética que impede seu crescimento.
Com a passagem dos anos, Aguirre percebeu que, mesmo sendo obesas, as pessoas pertencentes a esse grupo não desenvolviam diabetes e nem morriam de câncer. Em todos esses anos, uma delas chegou a desenvolver um tumor, mas conseguiu se curar.
A descoberta, divulgada na quarta-feira (16) em artigo escrito em colaboração com Valter Longo, da Universidade do Sul da Califórnia, para uma revista científica americana, poderia passar em breve do terreno científico para a prática.
Longo pretende solicitar ao governo americano o uso de medicamentos que bloqueiem o crescimento de pacientes que sofrem de câncer.
Aguirre disse que ele provavelmente fará estudos sobre essa possível aplicação para a Universidade do Sul da Califórnia em um hospital da Sociedade da Luta contra o Câncer (Solca) do Equador.
"A única coisa que me interessaria saber é que essas pessoas que estão sofrendo têm a possibilidade" de ter um tratamento mais efetivo, disse Guevara Aguirre, quem ressaltou que um efeito colateral provável dessa alternativa seria o aumento do colesterol.
A chave para o sucesso do tratamento está no organismo de pessoas como Luis Sánchez, um homem de 42 anos que tem a altura de uma criança e que colabora com Aguirre há duas décadas.
Sánchez, filho de pais altos mas que eram portadores da mutação, cooperou com o médico por altruísmo, assim como os outros pacientes, com o desejo de que as pesquisas dessem esperanças à próxima geração.
"Com os estudos realizados em nós (...) há a oportunidade de se descobrir algo que possa ajudar as crianças", disse Sánchez à Agência Efe.
No Equador, há cerca de 100 pessoas com a doença, conhecida como síndrome de Laron, enquanto no mundo todo há apenas 300.
Em uma pessoa normal, o hormônio do crescimento chega a um receptor no fígado e se forma um composto chamado IGF-1, que faz os tecidos e os ossos crescerem.
Os que sofrem dessa síndrome têm uma deficiência do receptor que faz com que se gere um baixo nível de IFG-1. Mas, o estudo indicou que, ao mesmo tempo, essas pessoas "não se têm câncer", enquanto seus parentes que não sofrem da síndrome desenvolvem a doença.
Em teoria, se medicamentos já existentes forem usados para bloquear esse receptor em um adulto, que não necessita crescer mais, seria possível lutar contra o câncer, afirmou Aguirre.
O médico não tinha essa ideia em mente quando iniciou suas pesquisas há 24 anos em pequenos povoados das províncias de Loja e El Oro com dinheiro doado por seu pai, mas se interessou pela prevalência da obesidade entre os pacientes com a síndrome de Laron.
Com a passagem dos anos, descobriu como tratá-los e realizou "os melhores estudos de crescimento no mundo", disse.
Ele administrou hormônios doados por uma companhia farmacêutica durante dois anos, mas parou quando estes acabaram.
A empresa continuou tratando os pacientes da síndrome na Europa e nos Estados Unidos, mas não os equatorianos, disse Aguirre, quem acrescentou que nunca recebeu apoio do Governo do Equador.
Com o hormônio, agora fabricado pela companhia francesa Ipsen, os equatorianos que sofrem da síndrome poderiam crescer até 1,4 metro, uma altura que os permitiria integrar-se mais facilmente no Equador, onde as pessoas, em geral, são baixas.
"Estes pacientes deram muito durante os últimos 20 anos: deram sua dor, seu sangue e sua cooperação", disse o médico.
Para o mundo, esses 100 equatorianos oferecem a oportunidade de se combater doenças fatais.
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